Todas as vezes que o culto a Deus era usado para tirar o foco da sua glória, Deus usava profetas para corrigir o povo. Parece estranho, mas o culto ao Senhor pode ser instrumento de desvio espiritual. O foco da glória de Deus é perdido quando há “pureza” hipócrita. Nesse contexto, o culto deixa de ser expressão de vida. Não podemos dissociar culto de santidade. Deus não aceita culto oferecido por gente de vida suja.
Em Isaías encontramos atos de culto que Deus recusa. Deus reclama do culto, pois estava sendo instrumento de desvio espiritual. A liturgia era hipócrita, desprovida de vida “O vosso incenso é para mim abominação” (Is 1:13). De modo semelhante, na época de Jeremias, o povo pensava que o culto era mais importante do que obediência, mais importante do que vida. Deus levanta o profeta para advertir o povo: “Quando tirei vossos pais da terra do Egito, não lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios, mas ordenei-lhes isto: Daí ouvidos à minha voz, andai em todo o caminho que eu vos ordenei para que vos vá bem” (Jr 7: 22, 23).
O grave problema da igreja moderna é que ela dimensionou o que agrada a Deus como sendo o que agrada a si: cantar, pular, liberar emoções, buscar sensações. Já ouvi “ministros de louvor” dizer: “Irmãos nesta noite vamos entrar em transe de louvor no nosso culto a Deus”. Esquecem esses “ministros” que o maior culto é o da vida. Culto sem vida é ofensa a Deus. Jesus enfatizou: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando (Jo 15:14). O culto pode até nos fazer muito bem, mas nada significará para Deus se não assumirmos a Palavra de Deus no nosso viver diário. Deus se glorifica na nossa obediência.
O culto pode ser esteticamente perfeito, pode despertar em nós os melhores sentimentos, pode ser realizado em um templo imponente, mas ser uma ofensa a Deus, porque não é expressão de uma vida santa. Deus olha o estado espiritual de quem o cultua. O Senhor olha a espiritualidade do cultuador. O apóstolo Paulo diz em Romanos 12:1: “Apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. “Corpos” no grego é “Sômata” que é mais que a parte física, é mais que carne, é mais que tenor, soprano, contralto, barítono. É mais que vozes, gestos, gingos e fumaça. É mais que decoração, performance, estética. “Sômata” é a interioridade de cada um de nós. Portanto, culto é rendição e entrega.
O culto tem sido banalizado em muitas igrejas. Cultua-se a Deus para obter dEle coisas, um prêmio em troca. Deus virou máquina caça-níquel. Cultua-se a Deus para experimentar sensações e sentir coisas. Culto virou recreação. Virou purgação. Virou festa carnal. Lamentavelmente, o culto em muitas igrejas tem se transformado em serviço de diversão, em vitrine de dotes artísticos. Se Deus colocasse na balança o culto que lhe é oferecido pesaria menos que uma borboleta.
Culto não se trata de cantar corinhos com instrumentos em elevados decibéis em um ambiente agitado onde alguns se exibem e outros embevecidos batem palmas e assobiam para quem se exibem. O verdadeiro culto nos leva a nutrir pensamentos sublimes a respeito de Deus, nos conduz a uma reflexão sobre os seus atributos, o seu amor, a sua graça e os seus atos. O culto está em seu ápice quando nossa alma se perde em admiração da glória e majestade de Deus.
Em nossos dias, o culto está muito freqüentemente centralizado no homem e não em Deus. Meu desejo e oração é que a igreja de Cristo descubra novamente o verdadeiro culto a Deus e volte-se à adoração e ao louvor bíblico na sala do trono.
Ir. Marcos Pinheiro