17 de março de 2015

Os sonhos dos homens são os sonhos de Deus?

Atenção, atenção, geração de “sonhadores apaixonados”, Vou logo avisando que esta análise poderá deixá-los muito irritados comigo! Talvez vocês, ao lerem este artigo, reajam: “Quem ele pensa que é para dizer isso?” Vocês terão razão, se pensarem assim a meu respeito, pois de fato eu nada sou. Contudo, peço-lhes que se esqueçam um pouco de mim e atenham-se ao que a infalível Palavra de Deus (1 Pe 1.24,25) tem a dizer a respeito dos “sonhos de Deus”.Vamos, pois, direto à análise da letra da “canção” em apreço:

“Se tentaram matar os teus sonhos, sufocando o teu coração; se lançaram você numa cova; e ferido perdeu a visão; não desista; não pare de crer”. Observe que a composição já começa falando diretamente com o ser humano, objetivando motivá-lo. Sabe o que é isso? Humanismo, antropocentrismo puro! É uma mensagem “motivacional”, motivadora, de auto-ajuda, cuja característica principal é mostrar que o homem pode; que ele é forte; que o seu pensamento positivo e as suas palavras convictas podem mudar todas as circunstâncias e trazer à existência o que não existe.Quanto aos “sonhos”, a Palavra de Deus alerta que o nosso coração é enganoso (Jr 17.9). Embora o Senhor nos revele muitas coisas mediante sonhos — sonhos de verdade (Gn 37.5,9; Mt 2.12), e não “sonhos” —, devemos ser guiados pelas Santas Escrituras (Sl 119.105). Há promessa de sonhos para os crentes de hoje, em decorrência do derramamento do Espírito Santo, mas sonhos de verdade (revelações de Deus), e não “sonhos” no sentido de desejos e aspirações (Jl 2.28-29).

“Os sonhos de Deus jamais vão morrer”. O modismo relacionado com os “sonhos de Deus” lamentavelmente tem desviado boa parte do povo de Deus da verdade, que é uma só para os nossos dias: qualquer grupo que se diz povo de Deus deveria se humilhar, e orar, e buscar a face do Senhor, e se converter (2 Cr 7.14), ao invés de ficar determinando, decretando, “profetizando” (como bem entende, e não segundo o que a Bíblia diz, especialmente em 1 Coríntios 14) e “sonhando”...Se todos os “sonhos” de Davi tivessem se concretizado, seguindo à “profecia de auto-ajuda” de Natã (2 Sm 7.3), ele não teria cumprido a vontade de Deus! E olha que o principal rei de Israel tinha um bom “sonho” — construir a Casa de Deus em Jerusalém. Felizmente, o Senhor usou o mesmo profeta que errara para desfazer a “profecia motivacional”, visto que não tinha origem divina (vv.3-17). E o que dizer dos “sonhos” de Paulo e sua comitiva, os quais foram impedidos pelo Espírito de Jesus (At 16.1-10).Todos nós temos aspirações (“sonhos”), mas é preciso tomar muito cuidado com esse modismo de atribuir todo e qualquer desejo do coração a Deus. A Bíblia diz: “Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da boca. Todos os caminhos do homem são limpos aos seus olhos, mas o Senhor pesa os espíritos” (Pv 16.1,2).

“Não desista; não pare de lutar”. De novo a composição fala o que qualquer palestrante ou livros seculares de auto-ajuda falariam. A canção em apreço parece mesmo ter sido inspirada em livros como Nunca Desista dos seus Sonhos. Não há nenhuma menção à vontade de Deus e à sua grandeza; não se faz referência à obra salvífica realizada na cruz por Jesus Cristo, tampouco à vida de santificação e renúncia que o crente deve ter nesta vida, ante à iminente volta do Senhor (cf. Lc 9.23; Hb 12.14; 1 Jo 3.1-3).
Pensando bem, quem não gosta de ouvir elogios e palavras animadoras? Ah, como é bom ouvir uma mensagem que nos motiva a ser felizes nesta vida, que nos estimula a usar toda a “nossa força” para mudar este mundo! Mas não se anime tanto! Nada somos em nós mesmos! Temos de nos humilhar debaixo da potente mão do Senhor (1 Pe 5.6; Sl 138.6; Ef 6.10). Nada de auto-ajuda! Precisamos é da ajuda do Alto!


“Não pare de adorar”. Oh, até que enfim uma ênfase à adoração, mesmo assim sem nenhuma especificidade. Simplesmente, “Não pare de adorar”. Adorar a quem? Adorar como? Adorar com quê? Cantando “canções” de auto-ajuda? Praticando esse perigoso antropocentrismo, que faz os crentes se afastarem cada vez mais da vontade do Senhor, confiando em suas “palavras mágicas”, e em seus “sonhos”?

“Levanta teus olhos e vê; Deus está restaurando os teus sonhos; e a tua visão”. Meu Deus! Não agüento mais tantas palavras de auto-ajuda! Mas alguém poderá argumentar: “Agora, a canção falou de Deus. Por que ser tão crítico?” Oh, sim, é verdade, Deus aparece restaurando os “TEUSsonhos”, a “TUA visão”. Afinal, o que vale mesmo é o que VOCÊ sente, o queVOCÊ pensa, o que VOCÊ sonha... Você, você, você... Você é o CARA.Que visão Deus estaria restaurando? A Palavra nos manda olhar para Jesus, autor e consumador de nossa fé (Hb 12.1,2). Mas, depois de tanta ênfase ao ser humano, a composição em apreço só pode estar incentivando o crente a olhar para dentro de si mesmo e contemplar as suas potencialidades, a sua capacidade de “sonhar” os supostos “sonhos de Deus”. Ah, falando em Jesus, Ele não aparece nenhuma vez nessa canção!


“Recebe a cura; recebe a unção”. Viva o humanismo! Recebe, recebe, recebe! É isso aí. Aproveite! Não é preciso mais adorar a Deus em espírito e em verdade nem se santificar! Basta confiar em suas palavras, atitudes e pensamentos positivos! Você é a “boca de Deus” na Terra! Tenha fé — mas a fé na fé, a fé na SUA fé! Isso mesmo. Pensamento positivo. Atitude positiva. Confissão Positiva!


“Unção de ousadia; unção de conquista; unção de multiplicação”. Haja unção! Interessante que, quando essa canção é entoada em certos “encontros”, pessoas caem ao chão e ocorrem outras manifestação que não passam no crivo de 1 Coríntios 14. Seriam essas unções as mesmas “novas unções” já analisadas neste blog, propagadas pelos super-pregadores da atualidade? Ora, nós temos a Unção do Santo (1 Jo 2.20), pela qual sabemos e podemos discernir tudo (1 Co 2.15), além de provar se os espíritos são de Deus (1 Jo 4.1). Não precisamos de outras unções.Diante do exposto, não há na Palavra de Deus esse tipo de mensagem propagada pela canção (e não hino) em apreço. Afinal, a nossa Cidade está nos Céus (Fp 3.20,21). Estamos neste mundo de passagem, e o nosso coração não deve estar “sonhando” com esta vida efêmera. Cristo não virá buscar uma geração de “sonhadores apaixonados”; Ele arrebatará os “vigilantes amantes da sua vinda” (Mt 25.11-13; 2 Tm 4.7,8).