O Crescimento Numérico é um Alvo Digno?
Nenhum texto das Escrituras indica que os líderes eclesiásticos deveriam estipular alvos para o seu crescimento numérico da igreja. Ouçam como o apóstolo Paulo descreveu o processo de crescimento da igreja: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma cousa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Co 3.6,7).
Se nos preocuparmos com a profundidade de nosso ministério, Deus cuidará de sua largura. Se ministrarmos tendo em vista o crescimento espiritual, o crescimento numérico será aquilo que Deus tenciona que seja.
Afinal de contas, qual o benefício de um crescimento numérico que não está arraigado em um compromisso com o senhorio de Cristo atravez da palavra? Se as pessoas vêm à igreja primariamente por considerarem isso divertido, em breve hão de abandoná-la, tão logo acabe o entretenimento ou tão logo encontrem algo mais interessante. Desta forma, a igreja é forçada a participar de um ciclo vicioso, onde precisa constantemente sobrepujar cada espetáculo com algo maior e melhor.
O que teria acontecido se os profetas do Antigo Testamento tivessem endossado essa filosofia? Jeremias, por exemplo, pregou durante quarenta anos sem ver qualquer resultado significativo. Pelo contrário, seus conterrâneos ameaçaram matá-lo, se não parasse de profetizar (Jr 11.19-23); sua própria família e amigos conspiraram contra ele (12.6); por não ser permitido casar-se, teve de sofrer uma solidão agonizante (16.2); houve conspirações secretas para matá-lo (18.20-23); foi ferido e colocado no tronco (20.1,2); foi espionado por amigos que buscavam vingança (v.10); foi consumido por desgosto e vergonha, chegando a amaldiçoar o dia que nasceu (v.14-18); e, por fim, foi injuriado e considerado um traidor de sua própria nação (37.13,14). Ele foi açoitado e atirado em um calabouço, passando ali muitos dias sem comer (v. 15-21). Se um etíope não tivesse intercedido em seu favor, Jeremias teria morrido ali. Por fim, a tradição ensina que ele foi exilado para o Egito, onde foi apedrejado e morto por seu próprio povo. Jeremias não teve convertidos a apresentar como fruto de uma vida toda de ministério.
Suponhamos que Jeremias tivesse assistido um seminário sobre o crescimento de igreja e aprendido uma filosofia pragmática de ministério. Você acha que isso teria mudado seu estilo de ministério confrontador? Podem imaginá-lo apresentando um show de variedades ou utilizando o humor para tentar conseguir o afeto das pessoas? Ele poderia ter aprendido como reunir uma multidão apreciável, mas certamente não teria realizado o ministério para o qual Deus o chamara.
O apóstolo Paulo também não usou um método baseado em técnicas de marketing, embora alguns autodenominados experts tenham procurado mostrá-lo como modelo para o neopragmatismo. Um dos que advogam as técnicas de marketing afirma: “Paulo foi o maior de todos os peritos em táticas. Constantemente ele estudava as estratégias e táticas para identificar as que lhe permitiram atrair o maior número de ‘candidatos’ e conseguir o maior número possível de conversões”. É claro que a Bíblia nada diz em respaldo a essa afirmação. Pelo contrário, o apóstolo Paulo evitou métodos engenhosos e artifícios que conduzissem as pessoas a falsas conversões, através da persuasão carnal. Ele mesmo escreveu:
Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e, sim, no poder de Deus (1 Co 2.1-5).
À igreja em Tessalônica ele relembrou:
Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo; pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e, sim, a Deus, que prova o nosso coração. A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha. Também jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros (1 Ts 2.3-6).