Nos dias atuais, muitos têm esquecido que Abraão, o pai da fé, foi chamado a abandonar a cultura de um mundo pagão e viver uma vida de modo totalmente distinta para o Senhor. Na vigência da lei de Moisés, as pessoas foram ensinadas de diversas maneiras a distinguir entre o sagrado e o profano, entre o limpo e o imundo, entre o espiritual e o mundano. No Novo Testamento Tiago exorta dizendo: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4:4). Portanto, a lei da distinção e separação do mundo é uma realidade bíblica. Hoje, muitos avaliam as coisas pela experiência, ou seja, a razão é serva da experiência. Nesse contexto, a lei da distinção e separação é desprezada.
Nesses tempos marcados pela tecnologia e a distração eletrônica, os mais diversos meios de entretenimento tornaram-se a ordem do dia. Isso tem levado muitos a pensarem que a adoração ao Senhor é um meio de satisfazer suas necessidades de entretenimento. Desse modo, a adoração é transformada em um “programa” e o mais lamentável, é que o desejo de obter felicidade e divertir - se é muito maior do que o de obter santidade. Freqüentemente ouve-se a frase: “A adoração foi fraca porque eu não senti nada”. Em alguns cultos a palavra de ordem do líder é: “Você precisa sentir algo nesta noite através do louvor”. O grande problema é que isso põe a centralidade da adoração no adorador. O adorador sem se aperceber passa a ocupar o lugar central da adoração, uma vez que ele precisa sentir, experienciar. Nesta perspectiva, a liturgia cúltica é um meio de atingir emoções. Imbuídos na idéia de que na adoração temos que ser criativos e emotivos, muitas igrejas celebra os louvores de forma espetacular com programas cheios de coreografias, vestimentas extravagantes e efeitos luminosos. Esses louvores além de não serem bíblicos não produzem o arrependimento, a mudança de comportamento para a edificação nas Escrituras (Ef 4:15-24). Se essas invenções modernas têm origem nas profundezas da espiritualidade, Por que não levam para maior evangelização ao mundo pecador? Por que essas produções espetaculares e talentosas não geram orações de agonia pelas almas sem Cristo? Por que não proliferam o culto doméstico que inclui o estudo da Bíblia com a família? Por que não geram crescimento na graça e no conhecimento de Jesus Cristo?
A verdade é que esse novo tipo de adoração não tem o alvo de admoestar ou ensinar doutrina, algo que é primordial para qualquer adoração bíblica. O apóstolo Paulo ensina aos da igreja em Colossos: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cântico espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração” (Cl 3:16). Portanto, se a adoração não admoesta ou ensina sobre Jesus Cristo, não é agradável a Deus. A correta avaliação do louvor no ambiente cristão deve ser se ele tem auxiliado no processo de ajudar a Palavra de Cristo habitar ricamente em nós. O papel central do louvor na igreja do Novo Testamento é ser parceiro do ensino da Palavra de Deus. A adoração e o louvor desempenham a função de ensinar e admoestar. Se não for assim, tudo é enfado e repugnante para Deus. Quando o propósito da adoração é despertar uma resposta emocional desviada da verdade bíblica, sem servir de auxílio no processo da rica habitação da Palavra de Cristo em nós, o resultado é uma fé anormal, uma fé romântica.
O grave desses “louvorzões” é a falta de reverência. Cantores correm pela plataforma, como celebridades da televisão, exibindo sua personalidade e comportando-se de uma forma bizarra e irreverente. Se o louvor for mais parecido com um espetáculo, com exibições, imitações mundanas, busca de sensações, então, a irreverência está estabelecida. Ser profano é tratar os assuntos bíblicos e sagrados com irreverência e menosprezo, bem como transgredi-los e corrompê-los. O estilo de louvor de “palco” é o produto de ensino profano, pois o louvor não deve ser uma oportunidade para o exibicionismo.
Alguns dizem: “O que vale é um coração bem intencionado”. Nem sempre a nossa bem intencionada imaginação é aprovada por Deus. Aquilo que Davi programou, segundo o seu coração bem intencionado, com todo um show para levar o altar para Jerusalém, foi por ele recomendável e bonito. Todavia, para Deus, foi uma imprudência (2 Sm 6:1-7). Após a vitória sobre os midianitas, Gideão fez um éfode com boas intenções, como memorial ao êxito de Israel na obra de Deus. No entanto, esse éfode não foi autorizado por Deus. Esse ato bem intencionado trouxe ruína espiritual à nação e aos familiares de Gideão (Jz 8:22-35). É explicito na Bíblia que o louvor que Deus pede é o louvor espiritual (Jo 4:23-24). Louvores espirituais não são louvores emocionais, mas expressão do homem novo com admoestação e doutrina. Emoções alteradas não são evidências de que a verdadeira adoração esteja acontecendo. É verdade que a nossa fé não é somente de cabeça, mas de emoção, o problema é que muitos não conseguem fazer a diferença entre emoção por Deus e manipulação. O louvor que o Senhor pede não é feito com giros, gestos corporais, gritaria, requebro sensual, expressão de carnalidade com ares de piedade. O louvor espiritual agradável a Deus tem a sua fonte no homem novo que canta com graça, admoestação e doutrina em salmos, hinos e cânticos espirituais (Cl 3:10,16). É este louvor espiritual oriundo do homem novo, que Paulo instruiu na carta aos coríntios “Que farei, pois? Cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (I Co 14:15). Nós podemos gostar da beleza e da emotividade dos louvores em uma igreja, mas se a teologia desses louvores não está favorecendo para que ricamente habite em nós a Palavra de Cristo, tais louvores não são adequados e devem ser abandonados!