Nas cartas de Paulo a Timóteo, o apóstolo mostra o cuidado que a igreja deve ter para não ultrajar o Evangelho da Graça. No capítulo 3 de II Timóteo, Paulo diz ao jovem pastor para ele permanecer firme nas Sagradas letras e, que pregasse a Palavra com firmeza em meio aos festivais de novidades. No capítulo 4 verso 16 de I Timóteo Paulo alerta ao jovem pastor Timóteo: “Tem cuidado de ti e do teu ensino”. Em outras palavras: “Timóteo, cuida de ti e da doutrina”.
Vivemos a época de relaxamento da doutrina. O relaxamento doutrinário ultraja o Evangelho da Graça. Onde não há doutrina, há corrupção do Evangelho da Graça. Precisamos entender que doutrina não é invenção humana, não é uma camisa de força para enquadrar a espiritualidade. É falsa a dicotomia: vida cristã ou doutrina, pois vida cristã autêntica, espiritualidade genuína, ocorre com doutrina. O ministério de Jesus não foi construído sobre milagres, mas sobre uma doutrina que os milagres autenticavam. Em Mateus 7:28 diz: “Ao concluir este discurso, as multidões se maravilhavam da sua doutrina”.
Jesus tinha uma doutrina. Ele era uma doutrina. Jesus veio no contexto de “didaqué” que substituiu a “torah” – o corpo de ensino revelado no Antigo Testamento. Jesus sempre destacou: “Ouvistes o que foi dito, eu, porém, vos digo”. Ele tinha consciência de ser uma nova “torah”. Portanto, é diabólico dizer que não havia nada de doutrina em Jesus. É infernal dizer que Jesus impressionou com sua vida as pessoas e os homens criaram uma estrutura doutrinária ao redor dele.
Os falsos mestres são os que mais se indispõem contra a sã doutrina. Dizem eles: “Doutrina divide, separa; doutrina não importa”. Dizem isto, para impor seus conceitos que lhe trazem lucro. Dizem isto porque querem formar seu império econômico. Enfatizam isto, porque pregam outro evangelho. Não o Evangelho da Graça, mas o evangelho da desgraça para benefício de seu bolso. Esquecem esses falsários que doutrina não aprisiona, não amordaça, não embalsama, mas a obediência a ela dá substrato para a libertação do pecado. Por isso, Paulo destaca em Romanos 6: 17 e 18: “Mas, graças a Deus que, embora tendo sido servo do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues, e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça”. Portanto, a compreensão e a internalização da doutrina produz arrependimento, fé e libertação do pecado!
Lamentavelmente, o Evangelho de nossos dias, tem sido dimensionado em termos de sensações e experiências. Sensações e experiências valem mais que doutrina. Mergulhados na subjetividade das sensações e experiências, muitos projetam qualquer conceito sobre Deus, Jesus e vida cristã, como se fossem válidos. Nesse contexto, a doutrina perdeu consistência. Cristianismo tem um corpo doutrinário e, ignorar isto é ultrajar o Evangelho da Graça. A Palavra de Deus é doutrinal e não um relato de sensações e experiências subjetivas.
Satanás tem feito um esforço muito grande para tirar do homem o sentimento de culpa. Para isso, ele tem colocado na mente de muitos de que a obra salvífica de Cristo é nos fazer melhores emocionalmente. Por isso, muitas igrejas, hoje, se reúnem mais para celebrar do que para confessar. O lema é: “Vamos louvar, vamos celebrar, vamos cantar”. Não sou contra louvor e adoração. Sou contra o “culto terapêutico” que baniu a confissão e que varreu para baixo do tapete a reflexão. Sou contra o “culto espetacular” onde as pessoas não pensam, não refletem, apenas, sentem e se rebolam. Sou contra o “culto catarse” onde tudo se submete à agitação. Sou contra o culto onde Jesus é uma força e não uma pessoa. Sou contra o culto onde Jesus é uma energia e não o salvador do mundo. Sou contra o culto onde Jesus é um terapeuta ocupacional e não aquele que perdoa pecado. Sou contra o culto onde Jesus passou a ser uma senha e não o Senhor da igreja. Nesses “cultos” o Evangelho da Graça é ultrajado porque o eixo cristológico das Escrituras é jogado fora: culpa, confissão de pecado, arrependimento, juízo, perdão, morte vicária, ressurreição corporal de Cristo, ascensão e vinda de Cristo.
Uma vertente que ultraja o Evangelho da Graça é a submissão da Bíblia ao pensamento humano. Muitos líderes estão fazendo análises marxistas do Evangelho. Outros fazem análises feministas do Evangelho. Há aqueles que vêm o Evangelho por uma perspectiva machista. Outros vêm por uma perspectiva dos oprimidos. Enfim, o conteúdo bíblico não está sendo visto por um eixo cristológico, mas por um viés humano. Quando esse olhar acontece, o Evangelho da Graça é ultrajado, pois a Palavra de Deus deixa de ser juíza e passa a ser ré. Quando a Bíblia é subordinada ao pensamento humano a igreja não sabe mais o que fazer com Cristo e sua cruz e aí, tenta sobreviver pelo pragmatismo. No pragmatismo, o Evangelho da Graça é ultrajado porque perde o roso de Cristo e passa a ter o rosto de Freud, Carl Jung, Norman Vincent Peale, Lair Ribeiro, Augusto Cury, Madre Tereza de Calcutá, Nelson Mandela, Leonardo Boff e Gandhi.
Hoje, muitos líderes acham que a igreja só será legitimada se criar novidades. Por isso, há uma preocupação muito grande em desvestir o Evangelho da sua loucura adornando-o com princípios antropológicos, sociológicos e psicológicos. O Evangelho não é popular. Nunca foi. Nunca será. Aqueles que estão ultrajando o Evangelho da Graça ganharão um prêmio: o “Oscar de patifaria”.
É o que tenho a dizer
Ir. Marcos Pinheiro