O fervoroso pastor A. W. Tozer disse: “Se algum arcanjo oferecer-me alguma verdade nova eu lhe pediria referência bíblica”. A identidade da igreja está sendo destruída por líderes inescrupulosos, desafeiçoados, implacáveis, cruéis e inspirados pelo inferno. Esses líderes têm introduzido na igreja elementos estranhos, que desfiguram sua saúde e prejudicam seu funcionamento. Doutrinas exóticas, práticas estranhas, bizarras, banais, carnais que se chocam com valores do Evangelho penetraram abruptamente nos cultos. Louvores esdrúxulos, revelações estapafúrdias, profecias mundanas, bizarrices, catarses, soprões, gargalhada santa, bençoísmo, novecentoísmo, cerulloísmo, malafaiaísmo, valdomiroísmo, macedoísmo, terranovaísmo, soareísmo, joyceísmo e cultos cada vez mais irreverentes dominam todo o ambiente da igreja.
A mediocridade é chocante: as pessoas pulam, sapateiam, rodopiam, dão cambalhotas, satisfazem suas necessidades de balanço e maneios, são “arrebatadas” e depois percebem que nada mudou em suas vidas cristãs continuam com suas paixões pela vaidade e os entretenimentos mundanos dando lugar para carne. Tudo isso tem desfigurado a igreja, que passa a se parecer com um circo, um clube, uma empresa, um SPA, um shopping, uma bolsa de valores, pois nela tem espetáculos, sócios, programas para fazer mimos aos seus congregados, desfiles, fé comercial e compra de bênçãos. A desfiguração da igreja percebe-se nos títulos auto-outorgados pelos líderes desfiguradores: apóstolos, paipóstolos. Daqui a pouco eles serão o vice-Deus e a quarta pessoa da trindade, uma megalomania que adultera as Escrituras.
Em Gálatas 6: 17 Paulo diz: “Eu trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”. Um dos problemas mais graves da igreja atual é a ausência de marcas, ou seja, cicatrizes. A doença atual da igreja é bençãotite. Muitos querem bênçãos. Querem um Servidor, um Doador de bênçãos. Querem o evangelho de bônus e brindes. Querem afagos, mas não querem cicatrizes. O que se precisa entender é que o cristianismo foi julgado difícil, rejeitado e impugnado. Desse modo, quem pensa que seguir a Cristo é ter um bilhete de primeira classe por este mundo está enganado. Quem pensa em seguir a Cristo sem querer sofrer pelo Evangelho está iludido. O exercício verdadeiro da missão da igreja requer abnegação e passa inevitavelmente pelo sofrimento e perseguição. A igreja não está nessa terra para buscar honrarias humanas, nem para recebe aplausos do mundo. Jesus ressaltou que sempre haveria hostilidade contra a igreja fiel. Sua missão é única e singular: Anunciar o Reino de Deus e o perdão dos pecados em Cristo Jesus. A igreja que anuncia “Pare de sofrer” como sendo a essência do Evangelho, não é a igreja do Senhor Jesus Cristo; a igreja que ensina as pessoas dizerem “Sou filho do rei e mereço o melhor”, não é a igreja do Senhor Jesus Cristo. Essas igrejas mentem e falseiam o Evangelho porque oferecem um trono sem sofrimento algum em nome de Cristo.
A verdadeira igreja é a da cruz. A Bíblia não chama a igreja a se identificar com Jesus pelo trono, mas pela cruz. O verdadeiro Evangelho é o da cruz, o do Cristo crucificado. Em I Pedro 4:13 o apóstolo enfatiza: “Regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis”. É na aflição e na perseguição que a igreja se sensibiliza mais para a voz de Deus. Certa feita, perguntaram a Katharine Von Bora , esposa de Lutero, o que ela achava das aflições, ao que ela respondeu: “Eu jamais teria entendido o significado dos diversos salmos, nem valorizado certas dificuldades, nem conhecido os mecanismos internos da alma se Deus nunca tivesse trazido aflições à minha vida”. O diabo nunca oferecerá a cruz, porque ele a odeia e a teme. Ele anuncia um evangelho sintético de caminho asfaltado.
Hoje, algumas igrejas com o pretexto de não serem chamadas de ultrapassadas e fanáticas, aceitam o padrão moral do mundo e o adota desfigurando-se como igrejas. Outras abordam temas mais sociais que espirituais, porque querem ser vistas pelo mundo como relevantes, perdendo, dessa forma, a visão de sua missão e transformando-se numa ONG. Ao invés de salvar os pecadores, querem salvar as árvores, as lagoas e as baleias; levantam a bandeira contra o aquecimento global; falam de preservação do meio ambiente, reciclagem do lixo, desarmamento nuclear; aliam-se a partidos verdes, defendem as fontes alternativas de energia e por aí vai. Esquecem que uma alma vale mais que o mundo inteiro.
A preocupação da igreja deve ser a sua fidelidade a Deus e não passar ao mundo uma imagem moderna, atual, contextualizada. O mundo não precisa nos aplaudir, mas nos respeitar e reconhecer que temos uma mensagem de vida singular vinda da parte de Deus. O olhar da igreja não é para o mundo, é para Deus; sua identificação não é com o mundo, é com Jesus. Se a igreja não quiser ser desfigurada ela tem que se auto-avaliar pela Palavra de Deus e não pelo mundo. O sal não fica com gosto de feijão, mas o feijão fica com gosto de sal. Jesus espera que a igreja deixe marcas no mundo ao invés de ser marcada por ele. Urge a igreja voltar à prática do verdadeiro cristianismo: Separação, obediência, humildade, simplicidade, e seriedade. Precisamos purificar o templo, removendo os mercenários e os cambiadores, e ficarmos sob a autoridade do Senhor ressurreto. Derrubemos as mesas da profanação do Evangelho e afirmemos a santidade a Deus!