22 de outubro de 2016

“Ministro do louvor do sacolejo”

Na área do louvor a igreja contemporânea está celebrando sua lua-de-mel com o mundanismo. A igreja atual caiu no extremo de considerar que um louvor em que não há êxtase emocional é um louvor morto, que não tem valor. Desse modo, tem-se perdido o foco deixando de lado o aspecto racional e adotando o subjetivo com toque de “mistério”. A cultura do sacolejo penetrou em muitas igrejas evangélicas. O espaço do altar tornou-se palco de shows. A espiritualidade drogada tomou conta do público. Pessoas experimentam momentos de louvor, como se fosse viagens da droga crack. O louvor é um verdadeiro espetáculo: todos riem, todos gritam, todos pulam, todos saracoteiam, todos dançam, todos batem palmas, todos se sentem bem. 


O “ministro do louvor do sacolejo” é um showman. A platéia se sente tão bem, que tudo parece ser teatro. O sacrilégio é tão grande que, pasmem, até hinos de futebol são tocados em pleno culto, incentivado pelo ministro showman. Enfim, a igreja está entibiada pelo secularismo. O louvor é feito com sentimentos aguçados que se manifestam com sapateado, ginásticas psicodélicas, giros e gestos sensuais. Corinhos de conteúdo bíblico são esporádicos e, em algumas igrejas, são cantados com muita cautela para não espantar a freguesia. Sim, hoje não há mais membresia, é freguesia mesmo. Já que não há mais absolutos, vale tudo para conseguir “gente” para a igreja. Os templos estão parecidos com as casas de shows, e não me refiro apenas à estrutura física e suas parafernálias, tais como jogo de luzes coloridas e fumaça de gelo seco, mas também a sua ideologia. Nesse contexto, o louvor virou baderna. Predomina as “bailarinas de Jesus”, as “dançarinas de hula hula de Jesus”, enfim, predomina o sacolejo.




O problema dos ministros do louvor do sacolejo é que eles perderam a noção da função do cântico. Esquecem esses ministros sacolejadores que o cântico desempenha o papel de ensinar, aconselhar, corrigir e admoestar. O cântico deve instruir na boa doutrina. Mas, esses ministros e grande parte dos compositores contemporâneos compõem cânticos que ferem a riqueza e a profundidade das Escrituras. Sentem-se felizes em sacrificar a doutrina pela diversão.

Os cânticos cristãos devem ensinar uma teologia sólida, uma fé explícita e uma doutrina correta. Calvino disse: “O louvor é o cântico da Palavra”. Em carta escrita a Spalatinus, secretário de Frederick I, Lutero escreveu: “Nosso plano é seguir o exemplo dos profetas e os pais antigos da igreja e compor salmos de forma que a Palavra de Deus possa estar presente entre as pessoas em forma de cânticos”. Cânticos que simplesmente mencionam uma verdade, mas não desenvolve essa verdade são considerados omissos em conteúdo doutrinário. Um cântico que repete do começo ao fim que Jesus é Senhor, mas não acrescenta mais nada, não é um cântico contado entre aqueles com conteúdo teológico. Um cântico que repete várias vezes a frase “Eu te exalto Senhor” e não diz mais nada, é falho do ponto de vista teológico. Jesus é digno de exaltação, mas por que o exaltamos? Que alerta é dado concernente à dignidade do Senhor? Portanto, o cântico é manco e deixa a desejar. Um cântico que repete “Bendize ao Senhor, ó minha alma, pois ele tem feito grandes coisas” e em seguida diz uma porção de outras frases curtas sem expressar porque devemos bendizer ao Senhor, é um cântico teologicamente falho. O que são essas grandes coisas? O salmo 103 diz “Bendize ao Senhor, ó minha alma”, mas os vinte e um versículos seguintes dizem por que nossas almas devem bendizer ao Senhor. É necessário entender que a gratidão bíblica deve ter sua base em fatos objetivos e doutrinários. Se não for assim, é mero sentimentalismo.

Outra idéia errônea dos líderes sacolejadores do louvor é achar que os instrumentos são indispensáveis na adoração. Para eles, sem instrumentos não há adoração. A verdade é que os instrumentos não enriquecem o louvor, apenas disciplina, gerencia o canto da congregação. Em termos espirituais os instrumentos não contribuem em nada. Portanto, o verdadeiro louvor pode acontece com ou sem instrumentos. Charles Spurgeon não possuía nem um órgão em sua igreja, porque ele via como algumas das maiores igrejas haviam descido ladeira abaixo se desviando dos princípios bíblicos concernente ao louvor por causa de seus magníficos instrumentos, da pompa, do esplendor estético, da performance artística e da excepcional habilidade de seus organistas. A beleza e as habilidades musicais, em si mesmas, não são atos de louvor. Precisamos de um avivamento na área do louvor. Mas, avivamento não é descer à rua em marcha com sensacionalismo, euforia e gritaria. Avivamento não é ir ao shopping apresenta-se em cantata. Mas, é subir ao calvário com grande choro!