Pedro, sob a inspiração do Espírito de Deus, percebeu a hipocrisia de Ananias e Safira. Imaginem o choque de Ananias! Ele compareceu perante os apóstolos, colocou sua oferta aos pés deles, declarando-lhes presunçosamente ser aquele todo o dinheiro obtido com a venda da propriedade. É provável que tenha permanecido ali por um momento, deleitando-se no que presumia ser a aprovação dos presentes. Deve ter imaginado que os apóstolos estavam vendo-o como um exemplo de espiritualidade, um homem generoso e piedoso.
De repente, Pedro lhe disse: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisse ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?” (At 5.3) – uma afirmação um tanto confrontadora para um culto na igreja.
Em muitas igrejas, Ananias teria recebido a aprovação que buscava, a despeito de suas intenções. O líder de uma igreja pragmática poderia raciocinar: Afinal, esta é uma considerável quantia de dinheiro. Tudo bem, as intenções dele não são puras: mas, gente, ele não é um sujeito ruim, e nós podemos fazer uso desse dinheiro. Não podemos envergonhá-lo na frente de todos. Se o fizermos, jamais receberemos dele um centavo sequer.
Pedro não pensou assim. Confrontou o pecado diretamente: “Por que encheu Satanás teu coração?” Note que Pedro estava pondo a culpa em Ananias, não em Satanás. “Por quê?”, ele perguntou. E novamente: “Como, pois, assentaste no coração este desígnio?” (At 5.4).
Pedro deixou claro que o pecado foi a hipocrisia de Ananias, não o fato de ele ter retido parte do dinheiro: “Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder?” (At 5.4). Ananias poderia ter feito o que desejasse com o dinheiro. Poderia não ter vendido a propriedade. Não havia qualquer exigência para que ele fizesse o contrário. Não teria pecado se houvesse dito: “Vendi minha propriedade; eis parte do dinheiro.” Ele tinha pleno direito de dar quanto quisesse. Mas ele pecou ao declarar que estava dando tudo, quando, na verdade, guardara parte do dinheiro para si mesmo.
O Juízo de Deus
A resposta de Deus foi imediata, severa e final. Ele matou Ananias no mesmo instante. “Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou” (At 5.5). Foi um ato judicial do Deus santíssimo. Quem sabe o coração de Ananias parou de bater por causa do terror que se apoderou dele. Isto aconteceu diante de toda a congregação.
“Igreja amigável?” Nem um pouco. Aliás, o efeito foi que “sobreveio grande temor a todos os ouvintes” (v. 5). Deus tornara Ananias em um exemplo para aqueles que fossem tentados a brincar com Ele e a macular a pureza da igreja.
Deus sempre julga o pecado dessa forma? É claro que não, mas, como Nadabe e Abiú (Lv 10), Coré (Nm 16), Acã (Js 7),Herodes (At 12) e outros na Escrituras, Ananias foi imediatamente julgado por seu pecado e pagou com sua própria vida. Deus soberanamente decidiu matá-lo naquela mesma hora. Assim, Ananias tornou-se exemplo para todos. A verdade é que Deus poderia punir desta forma todo pecado. “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). É por causa das infinitas misericórdias do Senhor que não somos consumidos (Lm 3.22). Algumas vezes, Deus julga o pecado com morte física. Paulo escreveu aos coríntios que estavam deturpando a ceia do Senhor: “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem” (1 Co 11.29,30). “Dormem”, nesse versículo, refere-se à morte física. Deus estava, na verdade, exercendo juízo sobre aqueles coríntios irreverentes, por meio de doenças físicas e, às vezes, por meio da morte.
No caso de Ananias, entretanto, não houve doença, não houve intervalo de tempo. Ele caiu morto imediatamente. O juízo de Deus foi rápido e aterrorizante.