A adoração é o assunto mais importante que confronta as igrejas bíblicas na atualidade. Hoje, muitos têm remodelado a Deus, transformando-o em um ser apenas um pouco maior que eles mesmos. Deus já não é mais o Infinito, o Todo-Poderoso, o Santo Deus que vê e sonda os corações. Ele é meramente um camarada ou um colega, que compartilha de nossa pequenez e trivialidade e aprecia nossa cultura alicerçada em entretenimento. Levando em conta a experiência de muitas igrejas, fica evidente que danças e coreografias como componentes de adoração divina traz consigo madeira, feno e palha, roubando o poder e a glória da verdadeira adoração.
Muitos no afã de justificar o injustificável citam sempre as passagens de Salmos 150:4 e Salmos 149:3 como apoio bíblico para as danças e coreografias no culto a Deus. A primeira passagem diz: “Louvai-o com adufes e danças”. A segunda diz: “Louvem o seu nome com danças”. Nesses versículos a palavra hebraica para “dança” é “mâchowl" que deriva de "chuwl" significando “fazer uma abertura”. Portanto, “mâchowl” é uma alusão a um instrumento musical de tubo. Clemente um dos pais da igreja considerado o maior erudito do hebraico de sua época traduziu a palavra “mâchowl” como “flauta volteante”, Isto é, “coral-eco”, ou “coral que responde em eco”. Analisando o contexto dos Salmos a palavra “mâchowl” ocorre numa lista de instrumentos a serem usados na adoração a Deus. A lista possui sete instrumentos: trombeta, saltério, harpa, adufe, instrumento de cordas, címbalos sonoros e címbalos altissonantes. Sendo assim, a maioria dos hebraístas afirma que a tradução da palavra não é “dança”, mas “flauta volteante”, um instrumento musical, uma vez que o salmista está listando todos os instrumentos musicais a serem utilizados em louvor ao Senhor.
Outro destaque importante é a conotação figurativa existente nos Salmos. Observe que no Salmo 149:5 diz: “Exultem os santos na glória, cantem de alegria no seu leito”. Aqui o salmista encoraja o povo a louvarem o Senhor no leito. No verso 6 o louvor acontece com “espada de dois fios nas mãos”. É claro que a linguagem é figurativa, o salmista não está dizendo que os remidos devem louvar a Deus saltando e pulando nos seus leitos, nas suas camas, erguendo uma espada de dois gumes. No verso 1 do mesmo Salmo o salmista se refere a um cântico novo que será entoado só no céu, na assembléia dos primogênitos (Hb 12:22-24). Nos versículos 7 e 8 Deus é louvado por “exercer vingança entre as nações”, “meter os seus reis em cadeia” e “os seus nobres em grilhões”. O contexto desses versos não é de adoração direta no templo, o salmista não está sancionando, validando a dança na igreja, mas descreve poeticamente a vitória de Deus, numa ocasião sem similar: a vitória de Armagedon. De modo semelhante o Salmo 150 fala em louvor a Deus de modo figurativo. No verso 1, o contexto é o céu. O salmista diz: “Louvai-o no firmamento do seu poder”. Em nenhum momento o salmista, nesse Salmo, fala de louvor direto a Deus no templo, muito menos em uma igreja, no Novo Testamento. Como ainda estamos na terra e não no céu, não há nenhuma possibilidade de louvarmos a Deus “no firmamento do seu poder”. Portanto, o Salmo não dá permissão para “dançar para o Senhor” na igreja. Interpretar o Salmo como sendo um aval para se dançar no templo é forçar o texto.
Alguns para defender sua posição quanto às danças e coreografias citam Jeremias 31:4 “... E sairás com o coro dos que dançam” e Jeremias 31:13 “Então a virgem se alegrará na dança...” Nessas passagens a Young’s Literal Translation muito respeitada entre os doutores da língua hebraica, traduz a palavra “mâchowl” como “coro que responde em eco”. Portanto, os versículos devem se entendidos assim: “... E sairás com o coro que responde em eco (Jr 31:4); “Então a virgem se alegrará com o coro que responde em eco” (Jr 31:13). O capítulo 31 de Jeremias fala da restauração de Israel. O povo de Deus voltaria a viver unido sob a benção do Senhor. No v2 diz: “o povo que escapou da espada”, ou seja, este povo é o remanescente de todas as famílias de Israel que voltariam do cativeiro. Observa-se em todo o capítulo que as palavras proferidas são de emoção: “gritarão”(v6), “cantai com alegria”(v7), “exultai”(v7), “proclamai” (v7), “cantai louvores” (v7), “choro” (v9), “súplicas” (v9), pelo fato do Senhor dizer pela boca de Jeremias que fará um concerto novo e melhor com o seu povo. Os textos falam das “virgens de Israel” as quais sairiam nas danças dos que se alegram. Ambas as passagens faz referência às danças folclóricas sociais , executadas pelas mulheres. A imagem é de um desfile cívico-militar de Israel com cadência rítmica de cunho folclórico-social. Portanto, não é o contexto de adoração a Deus no templo.
Os modernistas-liberais insistem em citar as passagens de I Samuel 18:6; 21:11 e 29:5 para defender o indefensável. Essas passagens referem-se às danças das mulheres celebrando vitórias militares. Os versos falam do episódio das mulheres de todas as cidades de Israel dançando para celebrar a matança dos Filisteus por Davi. Em nenhum momento há recomendação que crentes as imitem. Aliás, não temos nesses textos adoração direta a Deus no templo.
Em Êxodo 15:20 fala de Miriã e as mulheres que dançaram para celebrar a vitória sobre o exército egípcio. Em Juízes 11:34 fala da dança da filha de Jefté para celebrar a vitória de seu pai sobre os filhos de Amom. Em Juízes 21:21 e 21:23, trata-se da dança das filhas de Siló nas vinhas. Nessas referências em nenhum momento a dança é parte de um serviço de adoração. As danças não eram componentes da adoração divina. Eram celebrações sociais ou celebrações de cunho folclórico de eventos especiais. Por isso ninguém pode dizer: a filha de Jefté, Miriã e as filhas de Siló dançaram, logo, podemos dançar no templo durante o culto divino. A Bíblia simplesmente cita tais danças sem nem de longe recomendar que os crentes e a igreja do Novo Testamento imitem. Além disso, a dança na Bíblia nunca foi executada como parte da adoração no templo, na sinagoga ou na igreja primitiva. As danças eram dissociadas do tabernáculo e do templo.
Algumas danças na Bíblia estão associadas com apostasia. Em Êxodo 32:19 registra os israelitas dançando no pé do Monte Sinai ao redor do bezerro de ouro. É um episódio abominável, pois se trata de uma adoração pagã. Em I Reis 18:26 registra gritos e danças dos profetas de Baal no Monte Carmelo. Há registro de danças dos israelitas em Sitim quando o povo começou a prostituir-se com as filhas dos moabitas (Nm 25:1). A malícia usada pelas mulheres moabitas foi convidar os homens para os sacrifícios dos seus deuses que normalmente envolvia danças.
Alguns dizem que a dança libera o poder de Deus, os movimentos coreográficos chamam a presença de Deus. Ora, o poder de Deus é liberado através da proclamação da Palavra, da oração e da adoração em espírito em verdade e, nunca através de danças. Não sejamos ingênuos!
A lição que a igreja precisa aprender é que a palavra “dança” nunca é usada uma só vez sequer em conexão com a adoração a Deus!