Muitos pregadores assemelham-se mais a personagens de uma peça teatral do que arautos do Evangelho. Vivem de buscar aplausos e reconhecimento de homens. O maior desejo deles não é ver Jesus salvando pecadores, mas sim divulgar seu ministério e sua pessoa. As igrejas desses líderes têm sua base construída sobre a opinião pública e sobre as últimas técnicas mercadológicas. Neste contexto, o Evangelho se torna trivial, perde sua profundidade e Deus se transforma em um produto a ser vendido. O que resta são doses de conjecturas, discurso ensaiado, muito blá, blá, blá, aplausos, aplausos e aplausos. Dizem que os aplausos são para Jesus quando lá no fundo se sabe que é para engordar o ego dos “artistas” da igreja.
Charles Spurgeon pontificou: “haveria Jesus de ascender ao trono por meio da cruz, enquanto esperamos ser conduzidos para lá nos ombros das multidões, em meio a aplausos?”. Crisóstomo, conhecido pela sua inflamada pregação, era interrompido muitas vezes pelos seus ouvintes por aplausos. Mas, este homem de Deus censurava este tipo de glória ao homem. Não era incomum ouvi-lo dizer aos ouvintes: “O que é isto, um teatro? Por que vocês interrompem a minha pregação com aplausos? Antes façam o que digo ao invés de me aplaudirem por tê-lo dito”.
O avivalista George Müller disse: “Chegou o dia em que morri para George Müller, morri para tudo que eu era, que tinha, possuía e esperava ser, morri completamente e absolutamente para George Müller”. Na verdade não existe qualquer precedente bíblico que justifique aplausos para o pregador ou o cantor. Isso apenas incha a carne. Jesus era absolutamente despreocupado consigo mesmo. Sua preocupação maior era ser servo. É difícil imaginar Paulo, Silas, Barnabé, Pedro, Apolo, Felipe ou Estevão pregando o Evangelho e recebendo uma linda salva de palmas do povo, as palmas devem ser para Deus.
Os profetas não foram aplaudidos. Foram perseguidos, repudiados e maltratados. A mensagem dos profetas não consistia de frases elaboradas para animar a torcida; não consistia de um agito emocional e nem de falatório diplomático. Eles expunham a espada da pureza e da justiça o que gerou entre os seus ouvintes rejeição, escárnio e não aplausos.
Para muitos a boa pregação é aquela que é intercalada com aplausos por parte dos ouvintes. Quando Estevão pregou não foi aplaudido pelo povo, pelo contrário, seus ouvintes lançaram pedras contra ele. Na Itália, no século XV, um homem chamado Jerônimo Savanarola foi um dos maiores pregadores e reformadores que o mundo já conheceu. Denunciava os pecados do povo e a corrupção da igreja daquela época. Sua pregação era como a voz de um trovão, e sua condenação do pecado era tão terrível que seus ouvintes saíam pelas ruas, estonteados e sem fala. Sua congregação estava quase sempre em lágrimas, e todo o prédio ressoava com seus gemidos e choros. O povo não conseguia aceitar este tipo de pregação, por isso, em vez de se arrepender, queimou-o na fogueira.
Martírios, e não aplausos aconteceram com os discípulos: André insistiu em pregar e mandaram crucificá-lo. De acordo com a tradição, ele foi amarrado com cordas a uma cruz para que a morte pudesse ser lenta. Pedro, depois de passar nove meses na prisão, foi crucificado de cabeça para baixo. Paulo foi decapitado por Nero. Tiago, Mateus, Matias, Bartolomeu e Tomé foram martirizados, assim como todos os discípulos, com exceção de João, que morreu sozinho, exilado na ilha de Patmos.
O pregador que nunca quer deixar de ser aplaudido pelo povo, basta aceitar a ética e a conduta do mundo. Basta não mencionar a palavra inferno em sua pregação, não dizer às pessoas que elas são pecadoras, e devem mudar de vida deixando a sensualidade, maquiagens, futebol, prostituição, televisão...etc, e que sem Jesus elas estão perdidas e condenadas à morte. Quem quiser ser sempre ovacionado pregue sobre vitória financeira, auto-estima, saúde psico-corporal e promova um culto visceral, tolo, sintético, psicodélico e marqueteiro. Venda fórmulas mágicas travestidas de princípios bíblicos. Hipnotize os ouvintes com a mentalidade hedonista. Faça-os enxergar as luzes do palco e não a luz de Cristo. Faça-os escutarem o delírio da multidão histérica e não a voz de Deus. Desse modo, você será sempre aplaudido e estará no topo.
O cristianismo moderno fala muito pouco do conceito de esvaziar-se. Fala-se muito sobre como ter sucesso, como ser rico, como conquistar a vitória, como ser cheio disto e daquilo, mas pouco se ouve falar sobre como esvaziar-se ou como se tornar um nada ou como se tornar um zé-ninguém. Para sermos úteis para Deus precisamos estar vazios de nós mesmos. É preciso reconhecer que somos impotentes por nós mesmos. O problema de muitos líderes é que não querem ser “lixo e escória”, por isso adoram aplausos. Em Lucas 6:26, o Senhor Jesus disse: “Ai de vós, quando todos vos louvarem!”. Isso significa que quando somos aceitos por todos estamos mascarando o cristianismo. Se não experimentamos qualquer perseguição em nossa vida há alguma coisa seriamente errada e precisamos rever nossa declaração de que somos cristãos. Um cristão dos tempos primitivos, Aristides, cognominado de o Justo, não recebeu aplausos do povo. Pelo contrário, Aristides foi expulso da cidade de Atenas. Os cidadãos votaram sua expulsão. Um deles disse que votou contra esse bom homem “porque estava cansado de ouvi-lo sempre ser chamado de “o Justo”. Quanta diferença dos super-pregadores de hoje!
Precisamos de profetas que denunciem o pecado coletivo da adoração ao homem. Creio que se os pregadores de nossa cultura fossem mais confrontadores sobre suas convicções e vivessem de maneira santa e irrepreensível não receberiam tanto aplausos. O problema é que muitos pastores têm transformado a igreja do Senhor Jesus num playground onde se exercita o “dom” de rodopiar, o “dom” de bailar, o “dom” de rugir, o “dom” de engatinhar e, pasmem, o “dom” de enganar. Neste contexto, tome aplausos!
Uma coisa é certa: muitos pregadores que estão inchados com as ovações humanas e que tem feito da igreja do Senhor Jesus um Shopping - Center da fé hão de se decepcionar naquele grande Dia. Chega de aplausos ao homem, chega de glamour!